O Princípio

Valtherion Ordalis nasceu sob um raro alinhamento cósmico, quando as estrelas traçaram no céu a geometria perfeita de uma antiga constelação, um sinal interpretado pelos Oraculistas como o prenúncio do nascimento de um ser destinado a restaurar o equilíbrio nas forças do mundo. Sua aldeia, enclausurada entre muralhas de pedra branca e governada por um clero devotado à Ordem Primordial, o acolheu como um eleito, e desde os primeiros anos de vida, Valtherion foi instruído nos preceitos da Ordem: a harmonia sobre o caos, a estabilidade acima da paixão, a pureza da estrutura contra a anarquia dos impulsos. A magia da Ordem não era algo que se aprendia apenas com palavras e gestos; era uma disciplina que exigia submissão completa da vontade. Valtherion aprendeu a silenciar seus desejos, a calibrar seus pensamentos e a moldar sua essência para se tornar o que chamavam de um Arquimago da Ordem — um ser cuja simples presença impunha silêncio, cujos passos alinhavam os fluxos dispersos da magia natural, e cuja voz selava pactos inquebrantáveis entre mundos. Porém, a doutrina que o moldou também o isolou. Enquanto outros magos sorriam ao dominar chamas ou faziam juras de sangue com os espíritos do caos, Valtherion caminhava solitário, consciente de que sua magia era diferente: impessoal, inexorável, inevitável. Onde passava, as coisas se organizavam, os desequilíbrios se corrigiam, e os excessos — de poder, de emoção ou de vida — eram suprimidos. Quando completou vinte e um ciclos lunares, recebeu do Colégio dos Magos da Ordem o Cetro de Isoptera, um artefato forjado na interseção entre planos, capaz de canalizar o poder absoluto da Ordem e converter a instabilidade em rigidez eterna. Com ele, Valtherion não apenas endireitava rios ou erguia muralhas com precisão geométrica; ele detinha a capacidade de interromper o próprio fluxo do tempo em pequenos fragmentos da realidade, congelando o caos em estados permanentes de simetria. Porém, com o tempo, Valtherion começou a perceber que a ordem, quando levada ao extremo, sufocava a própria essência do mundo. Nos confins de sua alma, surgia uma dúvida: estaria ele preservando o equilíbrio ou impondo uma rigidez que destruiria a liberdade necessária à vida? Essa crise silenciosa levou-o a deixar os salões do Colégio e partir em uma jornada pelo mundo imperfeito, onde passou a buscar a resposta que nem mesmo os oráculos tinham ousado oferecer.