O Inquisidor de Azure

No coração das montanhas repletas de névoa do Reino de Azure, uma terra de beleza deslumbrante e tradições imortais, nasceu o herdeiro do clã Yoshimura. Seu nascimento, porém, não foi um sinal de bênção, mas sim prenúncio de um pacto sombrio. Décadas antes de seu nascimento, o clã Yoshimura era desprezado pelas demais famílias nobres. Viviam às margens da corte, humilhados, ignorados, afundados em dívidas e vergonha. Desesperado por restaurar a honra do clã, Kazunari Yoshimura, pai de Seijuro, aceitou a visita de uma entidade que se apresentou apenas como Kurokami — “Void”. Em troca de poder, riqueza e prestígio eterno, Kurokami colocou uma condição: o primeiro herdeiro de Kurokami nasceria com a marca da maldição, carregando o peso do pacto em sua alma. Sem hesitar, Kurokami aceitou.

Assim veio ao mundo Seijuro, com olhos cor de ébano flamejante e uma estranha mancha escura em forma de espiral no peito. Desde o berço, a criança era silenciosa, mas seu choro, quando vinha, fazia as tochas tremerem e os monges rezarem. As chuvas cessavam por dias e os passaros ligados as lendas mais sombrias rodiavam o castelo onde o primogênito havia nascido. A maldição era real. Aos 4 anos, ele já empunhava uma espada de madeira. Aos 7, já manuseava katanas reais, forjadas especialmente por monges ferreiros das montanhas. Mas não era apenas para se tornar um samurai. Seu destino era mais cruel: tornar-se um Samurai Inquisidor, um caçador de feiticeiros, xamãs e toda alma tocada por magia. Afinal, era o preço do pacto: Yoshimura deveria purgar o mundo daquilo que sua linhagem um dia desejou. Os anos se passaram, e o garoto foi endurecendo. Os mestres que tentaram moldá-lo o temiam ou pereceram sob sua lâmina. Sua alma era dividida entre o dever de proteger Azure das artes profanas e o ódio silencioso que crescia em seu coração pois ele era uma arma viva criada por um pacto que nunca escolheu.

Hoje, com pouco mais de 20 anos, Seijuro veste uma armadura leve azul-acinzentada, com ombreiras que lembram as asas de um corvo e um haori escuro marcado pelo símbolo da espiral maldita. Ele vaga pelo reino e além, executando magos, caçando demônios disfarçados de homens, e silenciando cultos antes que tomem força. Mas a maldição cobra seu preço, e a cada feiticeiro morto, a espiral em seu peito pulsa. Vozes sussurram e Kurokami observa. Ele sabe que um dia terá de escolher: destruir a entidade que amaldiçoou sua linhagem — ou tornar-se o novo receptáculo dela.