O Ars Sanguinem é mais que uma técnica ou um legado de poder — é um idioma cruel que a própria existência de Ellanor aprendeu a pronunciar antes mesmo de suas primeiras palavras. Cada célula de seu corpo carrega fragmentos desse vocabulário invisível, escrito nas dobras mais profundas de seu sangue, ecoando os decretos sombrios de Vladimir, o Pai das Maldições. Esse poder não segue os rituais tradicionais da magia. Não há encantamentos longos, nem círculos arcanos traçados no chão. Tudo o que Ellanor precisa é de sangue. Não o dele… mas o de quem ousa derramá-lo. Cada golpe recebido, cada ferida aberta por mãos inimigas, não o enfraquece — alimenta o ciclo. A dor se transforma em linguagem, a perda se converte em comando. As próprias gotas que escorrem de sua pele tornam-se runas líquidas, deslizando pela gravidade com um brilho rubro anômalo, como se obedecessem uma gravidade própria, desenhando padrões efêmeros no ar antes de cumprir suas funções.

O Ars Sanguinem é uma arte de resposta. Ellanor não inicia o conflito. Ele finaliza. As ações de seus oponentes são as linhas de um poema que ele distorce e devolve, letra por letra, com crueldade cirúrgica. Uma lâmina que o perfura… carrega, em seu rastro, o veneno da reversão. Um soco que o atinge… pode resultar na paralisia imediata dos nervos de quem o desferiu. Palavras de ódio… ecoam de volta na garganta de quem as proferiu, sufocando-os com a própria voz. Além do reflexo imediato, o Ars Sanguinem também permite manipulações mais lentas, rituais de médio prazo que Ellanor executa em silêncio, apenas observando, acumulando… esperando o inimigo se perder em sua própria sede de violência. Quando o suficiente foi derramado, Ellanor desenha a sentença final com um simples olhar, e o corpo do agressor colapsa de dentro para fora, como se o próprio sangue decidisse não mais obedecer.

Fruto da linhagem mais pura e amaldiçoada entre os Primordiais da Noite, a existência deste ser é a própria negação da morte. Seu corpo não segue as regras comuns da carne e do tempo. Ele não vive como os outros… ele persiste. O que corre em suas veias não pode mais ser chamado de sangue. É uma essência escura e densa, um legado direto de Vladimir, o Flagelo da Aurora, cuja carne foi a primeira a se fundir com o conceito da permanência. Vladimir, por sua vez, foi gerado a partir de Adamah, o Primeiro Homem de Sangue Escuro, aquele que a Noite moldou com as próprias mãos quando decidiu criar algo que não morresse… algo que jamais fosse esquecido… algo que sofresse eternamente. A cada ferimento, a cada golpe que deveria significar o fim, o corpo deste descendente se recusa a aceitar. Ossos esmagados retornam ao lugar com sons secos e grotescos, como madeira se recompondo sob pressão. Músculos rasgados se entrelaçam como serpentes famintas, voltando a ocupar os espaços que nunca deveriam ter sido esvaziados. Pele queimada, perfurada ou dilacerada se fecha com a mesma velocidade com que foi aberta… como se cada célula carregasse a memória de sua forma original e se recusasse a esquecer.

A Carne Eterna depende de sangue. Não por necessidade fisiológica, mas por uma espécie de ciclo predatório que alimenta a sua maldição. Quanto maior a qualidade do sangue consumido, maior a velocidade de sua reconstrução… e mais monstruosa sua força. Sangue de simples mortais o mantém de pé. Sangue de guerreiros o torna imbatível. Sangue de seres mágicos ou de linhagens nobres… o transforma em algo que sequer deveria caminhar sobre a terra. Durante o combate, sua luta é uma dança de resistência e voracidade. Cada golpe sofrido é apenas um prelúdio para a próxima investida. Inimigos começam confiantes… depois desesperados… e por fim, resignados diante de um adversário que não sangra por fraqueza, mas por provocação. Dizem que as únicas formas de derrotar um portador da Carne Eterna são através da completa aniquilação molecular… ou pela destruição absoluta de sua essência, coisa que poucos, em toda a história, sequer tentaram. Mesmo quando reduzido a pedaços, mesmo quando transformado em carne amorfa… ele volta.