No coração de um mundo onde até a escuridão teme pisar, existe um lugar que nunca conheceu o conceito de honra — Ruksanth, não um continente, mas uma ferida aberta na realidade. Ali, o crime não é desvio, é cultura. E nesse ecossistema de sombras, não nascem heróis, nem vilões — apenas sobreviventes moldados pela lâmina e pela traição.

É desse solo pútrido que surge Black Kuropansa, não como fruto, mas como rejeito de algo ainda mais obscuro. Diferente dos seus semelhantes, ele nunca pertenceu verdadeiramente à hierarquia das sombras. Não seguia mestres, não fazia parte das guildas, e não assinava contratos por ouro. Seu nascimento, segundo as lendas sussurradas por bocas costuradas pelo medo, não foi natural. Dizem que, numa noite onde até as estrelas se recusaram a acender, um ritual falhou — ou, talvez, tenha dado certo de um jeito que ninguém esperava.

Black não é um elfo sombrio comum. A própria natureza dele é um erro proposital do universo. Sua ligação com a sombra não é mágica no sentido convencional. Ele não manipula a sombra — ele é o espaço vazio que sobra quando a luz morre. Sua lâmina não carrega encantamentos; ela é uma extensão do vazio, um fragmento condensado do que existe entre os mundos.

Ao contrário dos espadachins tradicionais que dominam a destreza, ou dos magos que moldam a realidade, Black existe num ponto intermediário, impossível de ser replicado. Sua espada não corta — ela apaga. Memórias, nomes, presença… tudo o que cruza o fio da sua lâmina é desfeito da própria sequência dos fatos.

Mas não é só isso. Ao longo dos anos, enquanto outros se perdiam na ganância ou na loucura, ele percebeu que Ruksanth não é o fim — é um sintoma. Há algo maior, algo que sussurra além do tecido da existência. Vozes que não falam com palavras, mas com ausência. É por isso que ele não mata por dinheiro, nem por glória. Mata porque, de alguma forma que nem ele entende, seus alvos estão marcados por forças que estão além da compreensão — ou do consentimento — deste mundo.

Os que cruzaram seu caminho tentaram catalogá-lo: mercenário, assassino, espírito vingativo, encarnação de um erro cósmico. Nenhum desses rótulos o satisfaz. Black Kuropansa não carrega título, não carrega bandeira. Apenas carrega a consciência incômoda de que, enquanto ele existir, o próprio conceito de segurança é uma ilusão.

E quando a lâmina rasga o ar e o nome dele é sussurrado, não é a morte que se aproxima. É o esquecimento absoluto. Porque Black não leva vidas. Leva existências.