Há muito tempo, em uma vila esquecida entre colinas envoltas por neblina, circulava uma lenda sobre um talismã amaldiçoado. Esse artefato, de aparência simples mas enigmática, era feito de uma pedra negra e polida, de onde emanava uma leve e inquietante energia. Diziam que ele havia sido criado pelas bruxas de uma era distante, em tempos de perseguição, para proteger seu coven e, ao mesmo tempo, lançar uma sombra eterna sobre aqueles que ousassem usá-lo. O talismã possuía uma essência sombria e peculiar: permitia a quem o segurasse ver o futuro e controlar as emoções dos outros, como um espelho invertido da alma alheia. Contudo, para cada visão revelada ou emoção manipulada, o portador pagava um preço oculto. Cada uso do poder drenava uma parte de sua própria essência — uma lembrança feliz, uma emoção verdadeira, um fragmento de sua humanidade. A história conta que o amuleto fora encontrado por uma jovem bruxa da vila, guardado entre as relíquias de seus antepassados. Tentada pelo poder que ele oferecia, ela ignorou os avisos antigos e decidiu usá-lo para enfrentar aqueles que ameaçavam sua família. No primeiro toque, sentiu um frio inexplicável invadir seu ser, como se sombras profundas estivessem se infiltrando em seu coração. A cada uso, o talismã mostrava-lhe visões perturbadoras, revelando os segredos e os destinos de seus inimigos, mas, em troca, algo dentro dela desaparecia lentamente. Aos poucos, o coração da jovem foi coberto por uma frieza desconhecida. O que antes eram emoções vívidas agora pareciam sombras distantes. A alegria que sentira ao usar o poder começou a se transformar em um vazio profundo, enquanto o artefato sugava dela tudo o que restava de calor humano. Seus olhos, antes cheios de vida, tornaram-se reflexos do próprio talismã: frios, escuros, e insondáveis. A vila começou a temer a bruxa, que andava agora como uma figura espectral entre as árvores, sussurrando palavras incompreensíveis, como se sua alma estivesse presa entre mundos. Ela buscava uma maneira de se livrar da influência sombria, mas quanto mais tentava, mais o talismã parecia fundir-se a ela, como uma sombra inseparável. Em uma noite sem lua, com o último lampejo de sua vontade, a bruxa se dirigiu ao coração da floresta, onde antigas pedras marcavam o lugar dos rituais ancestrais. Ali, invocou os espíritos de suas antepassadas, pedindo-lhes um modo de se libertar da maldição. Os espíritos, com vozes ecoando nas sombras, revelaram-lhe que o talismã jamais poderia ser destruído, pois ele carregava o sacrifício das próprias bruxas que o haviam criado. Contudo, ela poderia selar seu poder, mas ao custo de se tornar sua guardiã eterna. Sem escolha, a jovem aceitou o destino sombrio que lhe foi proposto. Ao fazer o juramento final, ela sentiu seu corpo transformar-se em um espectro de si mesma, e sua alma foi unida ao talismã, selando-o para sempre. Desde então, diz-se que sua figura etérea ainda vaga pela floresta, protegendo o artefato dos olhos curiosos e daqueles que buscam poder, assombrando quem ousa se aproximar. Quem se aventura por esses bosques à noite pode sentir um frio inexplicável ou ouvir sussurros distantes. São advertências silenciosas, lembrando aos curiosos que a floresta guarda seus segredos com uma vigilância sombria. O talismã permanece lá, um testemunho de poder e sacrifício, intocado e protegido pela sombra de sua última guardiã.