Caminho Entre Véus
Não é um teleporte, nem invisibilidade. É desaparecer pelas bordas do mundo. Quando o portador da Joia deseja, e apenas em silêncio absoluto, ele pode esgueirar-se para dentro da margem entre os reinos — um espaço onde o ar vibra diferente, onde os sons são abafados como em um sonho antigo. Seus pés não tocam mais o chão, mas deslizam sobre um plano entre a realidade e o além. Nesse estado, pode atravessar paredes como quem passa por cortinas de fumaça, escapar de ataques que se tornam lentos demais para alcançá-lo, ou surgir atrás de inimigos sem que o som ou o cheiro o denunciem. O mundo, ao seu redor, fica cinzento e distante. Ecos de vozes ancestrais sussurram direções e escolhas — mas jamais verdades completas. Esse dom, porém, não é eterno. Se usado em excesso, o Caminho começa a puxar o portador para dentro — e aqueles que não retornam em tempo tornam-se murmúrios, prisioneiros da fenda que conecta mundos.
Voz da Raposa Ancestral
Sentado diante de uma fogueira moribunda ou em silêncio no santuário de ruínas esquecidas, o portador da Joia de Inari fecha os olhos e respira o nome da deusa. A joia se aquece, e então — sem som, sem cor — os espíritos respondem. Eles não falam com palavras, mas com imagens, lembranças, cheiros, arrepios. Um simples toque no chão pode revelar os passos de alguém que passou ali há dias. Um fio de cabelo deixado sobre a mesa conta segredos esquecidos pelo dono. Um sussurro de vento no ouvido pode denunciar uma mentira pronunciada em outro cômodo. Mas esse dom exige reverência. Os espíritos não servem: eles dialogam. E se insultados, se usados como ferramentas de orgulho ou ambição, se retiram. Ou pior — respondem com ironia, dando meia-verdades que desviam o caminho e desorientam até os mais sábios.
Encanto da Presença Ausente
No campo de batalha ou em situações de risco, a Joia pulsa como um segundo coração. Ao ativar o Encanto da Presença Ausente, o corpo do portador torna-se difuso, cercado por um halo sutil de imagens descompassadas — sombras que se movem antes do corpo, sorrisos em cantos onde ninguém está, pegadas que se formam à frente dos pés. Inimigos veem mais de uma versão do portador, todas com leve descompasso: uma levanta a arma antes, outra olha para o lado, outra recua — e nenhuma é a verdadeira. Seus golpes falham, não por má mira, mas porque a intenção se perde entre o que é real e o que é reflexo. Durante esse encantamento, o portador dança como uma raposa entre lâminas, movendo-se com graciosidade, com um rastro etéreo de pétalas, poeira ou fumaça. O ar ao seu redor parece dobrar-se, como se algo antigo estivesse protegendo-o. Mas o feitiço não pode ser mantido para sempre. Ele exige alma firme e foco absoluto. A dúvida, o medo ou o desejo de matar com crueldade fazem com que a presença volte ao corpo… e o encanto se rompa.